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Doença do refluxo gastroesofágico - Artigos médicos

RAFAEL BANDEIRA LAGES 

GASTROENTEROLOGISTA 

CRM-SP: 159.155 / RQE: 68669 

FAZ BEM - DRGE 


1. Posso ter doença do refluxo gastroesofágico mesmo com endoscopia normal? 


A endoscopia contribui bastante para o diagnóstico de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) ao possibilitar a identificação de esofagite, hérnia de hiato e  complicações, além de permitir afastar outros diagnósticos diferenciais. 


Contudo, ela  pode ser normal em até dois terços dos pacientes com DRGE. Nestes casos, o  diagnóstico deve considerar sintomas, resposta ao tratamento e, caso necessário,  exames de monitorização prolongada da acidez no esôfago (pHmetria). 


2. A minha tosse pode ser por causa do refluxo? 


Sim. Em alguns pacientes, o refluxo gastroesofágico pode atingir até a faringe e a laringe  e, com isso, desencadear sintomas atípicos não esofágicos, tais como tosse, rouquidão e pigarro. É necessário, contudo, ter prudência e proceder uma análise cuidadosa da  situação, descartando possíveis causas respiratórias. 


3. O café faz mal para o meu refluxo? Preciso restringir algum alimento? 


Sim, o consumo exagerado de café pode piorar o refluxo. De forma semelhante, chocolate, doces, bebidas alcóolicas, refrigerantes, condimentos, alimentos cítricos, gorduras e frituras também podem acentuar os sintomas.


No entanto, as evidências científicas neste tema são limitadas e controversas. Antes de simplesmente excluir esses alimentos da sua alimentação, é necessário observar quais realmente lhe causam desconforto, pois a resposta de cada pessoa pode ser muito particular. 


4. O refluxo tem relação com o meu peso? 


O peso extra aumenta a pressão intra-abdominal e, com isso, favorece o refluxo gastroesofágico. Estudos mostram que pessoas com sobrepeso ou obesidade têm um risco de 2 a 3 vezes maior de ter sintomas frequentes de refluxo. O ganho de peso, mesmo em indivíduos com o peso considerado na faixa normal, está associado ao surgimento de azia. Por outro lado, uma redução do índice de massa corpórea (IMC) em 3.5 diminui a ocorrência de azia em aproximadamente 40%. 


5. Existe algum cuidado para reduzir o refluxo ao deitar-se? 


Sim. Um intervalo curto entre comer e deitar está associado ao aumento dos sintomas e, portanto, o recomendado é fazer refeições mais leves e mais cedo no período noturno, de modo a aguardar pelo menos 2 a 3 horas para deitar-se após as refeições. 


Outra sugestão é elevar a cabeceira da cama em cerca de 15 a 20 cm para que a gravidade ajude contra o refluxo. Nesse caso, não basta utilizar travesseiros na cabeça, mas elevar a cabeceira em si - ou utilizando travesseiros em cunha ou algum suporte abaixo do colchão. Aconselhamos também evitar dormir com o lado direito para baixo, pois essa posição pode favorecer o refluxo devido à conformação do estômago.


6. Alguma medicação pode piorar o meu refluxo?


Sim, algumas medicações podem intensificar o refluxo gastroesofágico, tais como anti-hipertensivos, uma classe específica de antidepressivos, medicamentos utilizados para bexiga hiperativa e medicamentos com efeitos sedativos. 


Além disso, existem remédios e suplementos dietéticos que podem irritar diretamente a mucosa do esôfago, como antibióticos, remédios para osteoporose, suplementos de ferro, antiinflamatórios e suplementos de potássio. Por isso, sempre é importante rever tudo que está utilizando quando há piora dos sintomas de refluxo e seguir as orientações médicas.


7. Pessoas com hérnia de hiato precisam operar sempre?


Não, deve ser avaliado caso a caso. A hérnia de hiato ocorre quando parte do estômago invade a cavidade torácica por meio de uma abertura do músculo diafragma, que faz a separação entre tórax e abdome. Com consequência disso, há uma maior chance de ocorrer o refluxo gastroesofágico. 


Contudo, principalmente no caso de hérnias pequenas, mudanças de estilo de vida, mudanças dietéticas, perda de peso e medicamentos podem ser suficientes para controlar os sintomas. A decisão por operar irá variar conforme cada caso, a depender dos sintomas, da resposta ao tratamento e do tamanho e do tipo de hérnia.


8. Os "prazóis" fazem mal? 


Com o uso crescente de uma classe de medicamentos utilizados para reduzir a produção de ácido do seu estômago, também conhecido como prazóis, surgiu uma série de preocupações sobre possíveis efeitos colaterais a longo prazo (> 1 ano), tais como osteoporose, infecção intestinal, demência, nefrite, redução da absorção de algumas vitaminas e até câncer gástrico. 


No entanto, os estudos que identificaram estes efeitos apresentam falhas, não são considerados definitivos e não conseguem estabelecer uma relação de causa e efeito entre essa classe de medicamento e as condições adversas. 


Portanto, apesar de não podermos excluir a possibilidade de que essa classe de medicamento possa conferir um pequeno aumento no risco de desenvolver essas condições adversas, isso não justifica a sua suspensão quando indicado por um médico, uma vez que os benefícios nestes casos superam em muito os seus riscos teóricos. 


9. Fico bem por um tempo após utilizar medicamentos, mas depois de um tempo os sintomas voltam a piorar. É normal? 


Sim, pois a DRGE é uma doença crônica. Mesmo em pacientes sem esofagite erosiva, dois terços dos que respondem à terapia medicamentosa irão recidivar os sintomas após a suspensão da medicação. 


Quase 100% dos pacientes com esofagite erosiva intensa irão recidivar dentro de 6 meses. Isso reforça mais ainda a necessidade de mudanças comportamentais e perda de peso para tentar manter o refluxo sob controle a longo prazo. Em casos mais intensos, pode ser necessária terapia de manutenção para melhorar a qualidade de vida. 


10. Grávidas podem utilizar "prazóis"? 


Felizmente, é possível utilizar a maior parte desses medicamentos na gestação. A categoria de risco de uso na gravidez irá depender do medicamento que está sendo utilizado, sendo que alguns são classificados como categoria C (ocorreram efeitos adversos em experimentos animais) e outros considerados categoria B (sem efeitos colaterais em estudos animais). Dessa forma, é recomendado consultar seu médico se estiver grávida para a melhor orientação do seu caso. 


BR-22598. Material destinado ao público geral. Out/2023